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Dificuldades e resistência ao uso de preservativos estão ligadas às questões de gênero

 

Questões ligadas ao gênero e outros fatores fazem com que homens não usem preservativos e tenham menos cuidado com a saúde, sendo necessária a criação de uma política que pretende suprir a atenção e cuidado pela saúde masculina não enfatizada nas ações da APS


Direcionado para homens e mulheres, a estratégia da Atenção Primária à Saúde (APS) caracteriza-se pela prevenção de agravos, diagnóstico precoce de doenças e a manutenção da saúde, entre outras ações, e foi implementada no Brasil pelo Ministério da Saúde através do modelo assistencial Estratégia Saúde da Família (ESF), adequando o cuidado às necessidades das pessoas e comunidades e reconhecendo a multicausalidade e os determinantes socioculturais do processo saúde-doença.


O modelo da APS trazido para o Brasil se focou na assistência materno-infantil. Seus serviços passaram a ser mais utilizados por mulheres do que por homens, sendo identificadas práticas que acabaram dando pouca atenção às necessidades masculinas. Com o passar dos anos, a ideia da APS foi se desenvolveu e chegou a um público direcionado. Para Thiago Félix Pinheiro, psicólogo, mestre em Ciências/Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-SP) e autor do artigo Homens e camisinhas: possibilidades e limites na construção na saúde do homem, publicado na última edição do Boletim do Instituto de Saúde (BIS), a APS destina mais atenção e desenvolve mais ações em saúde reprodutiva, sendo pouco expressiva em relação à saúde sexual. "Assim, a divulgação e promoção do uso de camisinha na APS é feita de forma sistematizada e articulada à agenda de atividades dos serviços quando se insere nas ações de planejamento familiar. Quando não, parecem ser realizadas de forma solta, superficial ou pontual", afirma.


Números do IBGE revelam que a expectativa de vida dos homens se mantém 7 anos abaixo da média das mulheres. Com o intuito de reduzir a taxa de mortalidade e suprir as necessidades de saúde masculinas não atendidas plenamente pela APS, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) criada em 2008, também visa garantir a oferta de camisinhas como medida de dupla proteção da gravidez inoportuna e das DST/AIDS.


Entretanto, a distribuição de preservativos não é um ação com embasamento exclusivamente na PNAISH. Em 1994 o Ministério de Saúde já realizava a distribuição gratuita de camisinhas em todas as redes de saúde, tendo ela crescido mais de 60% entre 2005 e 2010 no país, juntamente a campanhas de conscientização que se iniciaram em 1997, inicialmente na TV e se expandiram para outros meios de divulgação.


A Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira de 15 a 64 anos de idade (PCAP), realizada em 2008, revela que o preservativo é mais utilizado por homens do que por mulheres. Dados dessa pesquisa apontam que 21% dos homens entrevistados tiveram relações casuais, sendo que 57% deles não usaram preservativo em todas elas.


Mesmo com forte investimento na promoção de práticas sexuais seguras pelos homens, diversos motivos ainda impedem que isso aconteça. Para Thereza Couto, cientista social, mestre em Antropologia, doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco e uma das autoras do artigo publicado no BIS, a camisinha se insere no âmbito das relações sexuais, já permeada de questões culturais, sociais e políticas. "No campo das relações de gênero há também a construção de valores culturais, como aqueles associados ao amor, à fidelidade, ao erotismo, que perpassam e delineiam as possibilidades de inserção da camisinha nas práticas sexuais", afirma. A complexidade envolvida nessa questão reflete nas dificuldades que as mulheres enfrentam na negociação do sexo protegido com seus parceiros, quando é feita a associação do uso do preservativo com a desconfiança de infidelidade entre o casal e o incômodo relatado pelos homens ao adotar essa prática nas relações sexuais. "Até mesmo entre os homens que afirmam usar, é possível que haja resistências e dificuldades com o uso. E elas, de modo geral, têm se mostrado atreladas às questões de gênero, presentes também em outros aspectos das relações sexuais, nas decisões reprodutivas, no lidar com a saúde e etc. Compreender essa associação é o que parece abrir portas na promoção do uso de camisinha", complementa.


Disponibilização de informações, métodos contraceptivos e preservativos para contracepção e planejamento familiar e o acesso facilitado a esses serviços por adolescentes e jovens são apenas alguns dos objetivos da PNAISH, política que ainda se encontra em processo de desenvolvimento. Para Thiago, ainda é cedo para se avaliar como têm sido, na prática, a PNAISH em relação às camisinhas. "A política ainda se encontra em fase de implementação e concretização. Nosso artigo tenta, inclusive, chamar a atenção para o fato de que esse aspecto não deve ser deixado de lado e para o potencial que ele tem na própria inclusão dos homens no contexto dos serviços de saúde", aponta.

 

 

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