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Consumo excessivo de álcool prevalece entre homens

 

Estudo publicado na última edição do BIS aponta que, no estado de São Paulo, mais de 89% dos internados por alcoolismo são homens


O alcoolismo é uma doença que afeta bilhões de pessoas em todo o mundo. Segundo dados do relatório elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados em 2011, quase 4% dos óbitos globalmente é devido ao alcoolismo, superando o número de mortos por HIV/AIDS e tuberculose.
Com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, um estudo realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) aponta mais de 40 mil óbitos causados diretamente por substâncias psicoativas no Brasil, entre os anos de 2006 e 2010, sendo o álcool responsável por 85% dessas mortes.


Também conhecida como síndrome da dependência do álcool, a doença afeta milhões de brasileiros, sendo um problema de saúde pública que, segundo dados do Ministério da Saúde em 2004, implica gastos de mais de 140 milhões de reais para o Governo. Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas possuam a doença em todo o país, o equivalente a mais de 10% da população, sendo contabilizado em torno de 1 milhão de pessoas que possuem a doença, somente no estado de São Paulo.


Publicado no volume 14 do Boletim do Instituto de Saúde (BIS), o estudo Prevalência do consumo abusivo de álcool em homens no estado de São Paulo: apontamentos para uma abordagem do alcoolismo na Atenção Básica à Saúde apresenta dados do Sistema de Internações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) no qual relevam que, em todas as regiões de São Paulo, mais de 89% dos internados por transtornos mentais e comportamentais devido ao alcoolismo são homens. Para Maria de Lima Salum Morais, psicóloga, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora científica do Instituto de Saúde da Secretária de Estado da Saúde de São Paulo e também uma das autoras do estudo publicado na revista, da mesma forma que a depressão é uma doença comum em mulheres, indivíduos do sexo masculino são mais propensos a desenvolver o alcoolismo. "Questões de gênero importantes estão envolvidas. O homem, quando é chefe da família, há uma demanda maior em cima dele, no sentido de produzir mais, de ser realmente provedor. O nível de estresse nesse sentido é maior", acrescenta.


Além da forte pressão sobre o papel masculino na sociedade, como o de ter um trabalho e de ter que sustentar uma família, o hábito de se reunir para tomar cerveja, comumente existente entre os homens, contribui para o surgimento do alcoolismo. "As mulheres estão começando a fazer isso também, mas ainda é mais comum entre os homens. Aquele que não bebe pode sentir-se excluído e começar a beber", comenta Maria de Lima. O consumo de álcool atinge seus níveis mais altos quando o indivíduo entra na faculdade e começa a trabalhar. Este hábito se reduz no início da aposentadoria, quando há diminuição no ciclo de amizades da pessoa e o surgimento de outras doenças, como diabetes e hipertensão, as quais restringem o uso de bebida alcoólica.


Para a psicóloga, outro fator contribuinte para a predominância de homens com problemas ligados ao álcool são as propagandas. "Sabemos que há pressões muito fortes das grandes indústrias. Em propagandas o álcool é associado a mulheres bonitas, a grupo de rapazes alegres. A propaganda também colabora e em geral é mais direcionada aos homens", aponta. Além disso, uma questão que influencia o hábito de beber excessivamente é o nível socioeconômico e a condição social do indivíduo. "Quanto mais marginalizada é do processo, a tendência é que a pessoa faça abuso de álcool", informa Maria.


Entretanto, o uso do álcool vai muito além da felicidade estampada em comerciais de cerveja. Como o fígado não possui capacidade de metabolizar o excesso de álcool, doenças como câncer e cirrose podem surgir decorrentes ao abuso da substância, assim como as gastrites, úlceras e pancreatites. Além das doenças orgânicas, um dos riscos existentes com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas é a dependência propriamente dita que, para Maria, se desenvolve com o passar dos anos. "A pessoa começa cedo e vai aumentando a tolerância precisa de doses cada vez mais altas para obter determinado efeito. Dificilmente você vai ouvir dizer que um jovem é dependente do álcool", afirma.


Uma das soluções para este problema, segundo Maria de Lima, seria uma prevenção secundária, pois o serviço de saúde detecta a doença no indivíduo quando este já está com um agravo devido ao álcool. Apesar de algumas iniciativas, como a proibição da venda de bebidas alcóolicas a menores de 18 anos e a limitação na veiculação de propagandas destes produtos na mídia, o alcoolismo ainda é uma questão a ser controlada. Para a pesquisadora, diagnosticar o vício com antecedência e ações multidisciplinares podem ser um ponto de partida para melhora neste quadro. "Ainda falta muito mais esclarecimento em escolas e oferecer mais alternativas de tratamento quando está no começo. O alcoolismo se torna um problema quando ele já está instalado", conclui.

 

Núcleo de Comunicação Técnico-Científica

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